
O TRABALHO… SEMPRE ELE
Há quem duvide da centralidade do trabalho como motor da capacidade humana e da história. Uns fazem isso porque não vivem do próprio trabalho. Até aí se entende. Se a pessoa não vive do fruto de seu próprio trabalho, mas do trabalho dos demais, materialmente, ela não consegue enxergar a importância filosófica e prática disso na sua vida. E é essa classe que paga a outros para manter como tudo está. Mas, essa não é uma tarefa fácil.
Vários desses ideólogos disparam, ao longo de décadas, que a luta de classes está encerrada – fim da linha; fim da história. Que estamos indo a uma “sociedade da informação”. Também há quem diga que ser trabalhador(a) é uma identidade ultrapassada, apenas uma das diversas facetas das identidades “líquidas” que podemos assumir na pós-modernidade. Mas aí vem a realidade…
Pandemia mundial. Devemos ficar em casa, todos, para evitar o contágio. Para isso, usamos estes recursos da sociedade da informação: aplicativos para comprar, para comer, para andar de um lado a outro, enfim, para ser. Se, a ideia de “tudo ao toque de seus dedos” fazia triunfar o individualismo e suas ‘individualices’, durante a pandemia, torna-se necessidade social. Devemos ficar em casa, todos, para evitar o contágio. Mas nem todos podem.
Se “do outro lado do balcão também bate um coração”, em cada volante e guidão (motorizado ou não) também. E esses não podem parar. Deveriam poder. Qualquer política decente de combate à pandemia deveria incluir uma ação efetiva do Estado, ainda mais num país brutalmente desigual como o Brasil. Mas essa vem às migalhas e de forma desordenada e descoordenada. Então o povo não para, e aí está o grande paradoxo. Uma classe trabalhadora imensa no limbo da informalidade, mal paga, sem direitos e cheia de obrigações – a cara do Brasil contemporâneo – empurrada para o trabalho no pior dos mundos e nas piores condições.
Se, para os ideólogos da elite, a organização política do povo ‘de baixo’ surpreende – pois, para eles, é ‘a ordem natural das cousas’ que sigamos trabalhando, independente do mau tempo – para quem vive esse cotidiano, nada poderia ser mais esperado. Para os que haviam atestado o óbito da luta de classes: uma greve. Nada mais horrendo e moderno que a velha tática da classe trabalhadora de parar a produção. Sim, uma greve de entregadores de aplicativo no meio da pandemia.
Pior. Eles têm uma pauta. E estão se organizando coletivamente para buscá-la. Para o desespero do individualismo tacanho do liberal-conservadorismo tupiniquim. Essa pauta fala de coisas importantes: aumento nos valores mínimos de frete e por quilômetro rodado, bem como melhores condições de trabalho, fornecimento de equipamentos de proteção e prevenção para enfrentar a pandemia. Salário e condições dignas de trabalho.
Voltamos ao século XIX, diante da incredulidade líquida de vários. E mais: denúncias de violências dos usuários, assédio e opressões de toda a ordem. Essa pauta abarca as experiências individuais, sem perder de vista o horizonte estratégico. Coloca o dedo na cara do patrão, do cliente e da sociedade.
Como já virou jargão, a crise sanitária aprofunda as crises que já temos. E a crise mais profunda é a do trabalho. Não do trabalho enquanto tal, mas da forma capitalista de empregar o trabalho humano, sua força e engenhosidade. Uma crise de classe e sistêmica, pois, no contexto atual, há pouca margem de manobra. Ou somos nós ou são eles. Se a classe dominante tem suas armas, a classe trabalhadora também tem as suas. Tentarão deslegitimar essas lutas (como sempre fizeram). Buscarão saídas falaciosas (como sempre tentaram vender). Então, às armas! Dia 25 de julho é #BrequeDosApp!